I Conferência Nacional Unitária de Trabalhadores<br>foi há 40 anos (1)
Culminando uma série de reuniões preparatórias, realizava-se no dia 2 de Fevereiro de 1975, em Lisboa, a I Conferência Nacional Unitária de Trabalhadores, promovida pelo PCP, mas destinada a todos os trabalhadores portugueses independentemente da sua opção partidária.
Participaram na Conferência – destinada a recolher as experiências de luta dos trabalhadores e a apontar as soluções que estes previam para as empresas em situação difícil onde trabalhavam – cerca de mil trabalhadores e delegados de 191 empresas dos sectores da Cerâmica, Vidros, Confecções e Correlativos, Construção Civil, Cortiça e Madeira, Electrónica, Frio, Pesca, Conservas e Alimentos, Gráfica, Hotelaria, da Metalomecânica, Química, da Têxtil, Transportes, entre outros, englobando mais de 110 000 trabalhadores.
Referindo-se à importância da contribuição da classe operária e dos trabalhadores, em todos os aspectos da vida nacional, para a construção de um Portugal democrático, Álvaro Cunhal, que participou na Conferência na qualidade de Secretário-geral do PCP, assinalaria: «É significativo que seja a classe operária, que sejam os trabalhadores, os primeiros e os únicos a examinar atentamente a situação nestas empresas, a procurar e apresentar soluções».
De facto, a existência, alguns meses depois do 25 de Abril de 1974, de diversas empresas em situação difícil, com gravíssimas consequências para dezenas de milhares de trabalhadores ameaçados de desemprego e, verificando-se na grande maioria dos casos a sua firme disposição para manterem ou porem as empresas a funcionar, desde que em benefício da própria classe ou do País, levou o Partido Comunista Português a ir ao encontro destes trabalhadores. Promoveu-se reuniões nos locais de trabalho ou a nível regional, preparatórias desta Conferência, cujos trabalhos se traduziram num enorme sucesso na luta da classe operária e dos trabalhadores portugueses pelo direito ao trabalho e na defesa da economia nacional.
Com esta iniciativa pretendeu o PCP que fossem os próprios trabalhadores a indicarem as soluções que consideravam justas e capazes de satisfazerem os seus interesses face a uma situação económica degradante, na maioria dos casos devido à sabotagem económica, gestão deficiente ou irregularidades de vária ordem por parte dos monopólios (por exemplo, como refere Álvaro Cunhal, não investindo mais-valias na produção, mas antes canalizando-as para bancos estrangeiros e para as suas fortunas pessoais, deixando «as empresas sem recursos, os operários sem trabalho, a economia nacional arruinada»).
O trabalho das secções (13) permitiu detectar, caso a caso, os aspectos mais importantes da situação existente, caracterizando as empresas, a natureza e as causas das dificuldades, a possibilidade de soluções, a atitude do patronato e a disposição dos trabalhadores para lutarem pelos seus direitos, evitarem o afundamento da economia nacional e assumirem as responsabilidades de direcção de que o patronato se demitiu, pelas suas posições antidemocráticas e antinacionais.
Facto que Álvaro Cunhal, no discurso de encerramento, enfatizaria ao afirmar: «Foi preciso que se reunissem os trabalhadores para que a situação nessas empresas fosse estudada e para que as soluções fossem apresentadas. Isto mostra, camaradas, o papel que desempenha a classe operária no Portugal de hoje, isto mostra que no nosso País não se pode construir um regime democrático, não se pode resolver os problemas nacionais sem a participação activa e criadora dos trabalhadores portugueses».
As conclusões da Conferência, que publicaremos no próximo número do Avante!, avançam propostas e sugestões que são reconhecidas como importante contribuição «para que sejam tomadas as medidas necessárias para resolver os problemas que afectam a classe operária, afectam os trabalhadores em geral e põem em perigo a própria estabilidade económica e financeira do País». Mas vão mais longe, como constata e sublinha Álvaro Cunhal: «[a Conferência] revelou que os trabalhadores portugueses olham para os problemas da actualidade com uma perspectiva mais ampla. Se formos ver as conclusões das comissões, quase todas elas concluíram pela necessidade de nacionalizações. E não apenas nacionalizações. Foi ajuntado alguma coisa mais. Ou seja que essas nacionalizações somente teriam sentido se fossem sob o controlo, sob a direcção dos trabalhadores. Ora, isto, camaradas, é uma perspectiva de socialismo».